Já ouviu algo sobre um dos passeios mais conhecidos da Bolívia? Uma descida pelas montanhas? A estrada mais perigosa do mundo? Bem, um passeio onde desce de bicicleta durante 60 km. Desde estrada asfaltada até estrada de terra e cascalho, passando por pontos estreitos, sem quaisquer barreiras de segurança, com vários precipícios. No passado houve alguns acidentes e até mortes, hoje é um dos cartões postais da Bolívia, conhecida por seu extremo perigo. Esta é: Estrada da Morte.
Acordei super cedo, antes das 7 hrs da manhã. Iria fazer Downhill na Estrada da Morte. Minhas pernas estavam um pouco doloridas do dia anterior, corpo ainda precisando de um descanso, e como tinha só um mês viajando para conhecer Bolívia e Peru, precisava aproveitar o tempo todo, até onde meu corpo aguentasse.
Tive que atravessar La Paz a pé até achar uma rua e a loja no mapa, à procura da empresa que estaria me aguardando para dar o material de proteção da bicicleta. Infelizmente a empresa que fechei, acho que Maya Tours, não buscaria no hostel, e sim eu tive que ir até eles. Custou algo acho que $100,00 ou $80,00 e provei a roupa, assinei um termo de responsabilidade, e entrei na van para a aventura. No fim ganhei um cd com as fotos e uma blusa preta.
Novamente não havia nenhum brasileiro, mas havia um chinês que falava um pouco de português, e eu consegui traduzir um pouco para ele. Duas vans lotadas cheia de loucos buscando de alguma forma adrenalina e emoção. Um certo perigo calculado nos esperava, descer rapidamente uma montanha de bicicleta. A van foi subindo uma avenida até próximo ao topo de uma montanha. Lá os guias explicaram o que podíamos fazer, como frear, não parar na estrada pra fotos e que havia os pontos certos para fotos, lanche e descanso. Tiramos fotos e pronto. Começou...
Estava bastante frio, e começamos a descida no asfalto. Uma van foi na frente e uma atrás de nós. Passava carro dos dois lados, ônibus, e aí eu vi que existe gente no mundo muito mais doido que eu. Uma amiga da Simone, uma brasileira que conheci dois dias antes, havia caído poucos dias antes e quebrado uma costela. Lembrei disso e maneirei na descida. Afinal, uma estrada que se você erra, se perde o controle, você cai e simplesmente morre. Vi um caminhão tombado. O risco de cair de um desfiladeiro sem proteção, um penhasco que para te achar lá embaixo no meio do mato, vai demorar pelo menos uma semana para achar o corpo. Bem voltando... O que eu vi foi gente da Alemanha, França, Austrália, todos os lugares do mundo, descendo sem frear, inclusive mulheres, a mais de 60 km/h. Claro que em alguns momentos eu cheguei a fazer isso, mas não toda hora, como muitos fizeram. Tinha uns doidos que faziam isso o tempo todo. Pirei, eu fiquei encabulado com a coragem ou loucura desse pessoal. Parece que mochileiro é tudo sem noção mesmo.
Só podíamos parar para tirar foto em pontos específicos. Logo acabou o asfalto e entramos na estrada de terra, área da Estrada da Morte mesmo. Cascalho solto, sem proteção na estrada. A manhã inteira descendo de bicicleta. Meus dedos começaram a endurecer, pois eu peguei uma bicicleta mais barata, bem boa, mas fazia muita força nas mãos para frear, e como freava toda hora, dedos endureceram. No meio do caminho minha bicicleta quebrou a marcha. A van veio e me deu uma bike nova. Descia uma montanha em ziguezague, uma floresta cortada pela estrada, e começou a fazer muito calor. Coloquei todas as roupas que estava na van durante uma parada e fiquei só com a roupa térmica.
Assista em: https://www.youtube.com/watch?v=aW8_F8Ik23E
Passei por uma cascata, tiramos várias fotos, houve pausa para lanche... E estava um calor insuportável. Depois de várias horas descendo, fotos, pedras, chegamos no fim da linha. Um vilarejo, onde comemoramos a descida com sucesso, banho no rio, e depois muito arroz, batava frita, carne, salada e vimos as fotos tiradas pelos guias.
Da metade do caminho em diante eu era o ultimo da turma, optei por ir mais devagar, desviando das pedras, e tentando apreciar mais a paisagem. Incrível pedalar no meio daquela mata. Me senti em uma matéria do National Geographic. A adrenalina vinha o tempo todo. Sabe aqueles momentos onde você deseja uma pausa por estar tão bom?! Então, hoje carrego fotos, lembranças, história. Bate certa saudade ao relembrar e escrever. E voltando... Estava morto de cansaço, não tinha descansado nenhum dia e o passeio foi ótimo. Super recomendo para quem for a Bolívia, afinal é um dos cartões postais do país. Não deixe de fazer a Estrada da Morte.
Assista em: https://www.youtube.com/watch?v=qyEeiCylwNw
Um dia eu ouvi a seguinte “quem dorme muito vive pouco”. Desde então ela é impregnada na minha vida. Claro que eu tenho certos limites. Acabei saindo para negociar um último passeio logo que cheguei na parte da tarde em Lá Paz. Huayna Potosi. Depois de muitas lojas de turismo, acabei fechando com uma, por 900 bolivianos, por terem me orientado melhor e pela confiança que senti. Bem, eu iria fazer o passeio na manhã seguinte! Putz, eu estava morto, podia ter tirado o dia seguinte para descansar, mas não, achava que meu corpo era de ferro, e que já estava aclimatado a altitude e não iria sentir nada em uma escalada. O rapaz que fechei o passeio, me deu muitas dicas, inclusive orientou para eu ir após dois dias e não no próximo e eu teimei com ele. O melhor atendimento que tive na Bolívia foi o dele.
Enfim, tinha feito a Estrada da Morte, o Pico Áustria, Chacaltaya, acretiva que Huayna Potosí seria parecido e fácil. O vendedor me levou em farmácias, até achar Soroche Phill e um tubo de oxigênio para levar na escalada. E.... até o próximo episódio! Meu corpo está cansado e novamente preciso dormir, afinal de contas nos próximos dois dias estarei em uma montanha de 6088 metros, uma das mais altas da Bolívia, vem ai: Huayna Potosí.
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