sábado, 20 de fevereiro de 2016

Downhill na Estrada da Morte - Bolívia

Já ouviu algo sobre um dos passeios mais conhecidos da Bolívia? Uma descida pelas montanhas? A estrada mais perigosa do mundo? Bem, um passeio onde desce de bicicleta durante 60 km. Desde estrada asfaltada até estrada de terra e cascalho, passando por pontos estreitos, sem quaisquer barreiras de segurança, com vários precipícios. No passado houve alguns acidentes e até mortes, hoje é um dos cartões postais da Bolívia, conhecida por seu extremo perigo. Esta é: Estrada da Morte.

Acordei super cedo, antes das 7 hrs da manhã. Iria fazer Downhill na Estrada da Morte. Minhas pernas estavam um pouco doloridas do dia anterior, corpo ainda precisando de um descanso, e como tinha só um mês viajando para conhecer Bolívia e Peru, precisava aproveitar o tempo todo, até onde meu corpo aguentasse. 



Tive que atravessar La Paz a pé até achar uma rua e a loja no mapa, à procura da empresa que estaria me aguardando para dar o material de proteção da bicicleta. Infelizmente a empresa que fechei, acho que Maya Tours, não buscaria no hostel, e sim eu tive que ir até eles. Custou algo acho que $100,00 ou $80,00 e provei a roupa, assinei um termo de responsabilidade, e entrei na van para a aventura. No fim ganhei um cd com as fotos e uma blusa preta.

Novamente não havia nenhum brasileiro, mas havia um chinês que falava um pouco de português, e eu consegui traduzir um pouco para ele. Duas vans lotadas cheia de loucos buscando de alguma forma adrenalina e emoção. Um certo perigo calculado nos esperava, descer rapidamente uma montanha de bicicleta. A van foi subindo uma avenida até próximo ao topo de uma montanha. Lá os guias explicaram o que podíamos fazer, como frear, não parar na estrada pra fotos e que havia os pontos certos para fotos, lanche e descanso. Tiramos fotos e pronto. Começou...



Estava bastante frio, e começamos a descida no asfalto. Uma van foi na frente e uma atrás de nós. Passava carro dos dois lados, ônibus, e aí eu vi que existe gente no mundo muito mais doido que eu. Uma amiga da Simone, uma brasileira que conheci dois dias antes, havia caído poucos dias antes e quebrado uma costela. Lembrei disso e maneirei na descida. Afinal, uma estrada que se você erra, se perde o controle, você cai e simplesmente morre. Vi um caminhão tombado. O risco de cair de um desfiladeiro sem proteção, um penhasco que para te achar lá embaixo no meio do mato, vai demorar pelo menos uma semana para achar o corpo. Bem voltando... O que eu vi foi gente da Alemanha, França, Austrália, todos os lugares do mundo, descendo sem frear, inclusive mulheres, a mais de 60 km/h. Claro que em alguns momentos eu cheguei a fazer isso, mas não toda hora, como muitos fizeram. Tinha uns doidos que faziam isso o tempo todo. Pirei, eu fiquei encabulado com a coragem ou loucura desse pessoal. Parece que mochileiro é tudo sem noção mesmo.
Só podíamos parar para tirar foto em pontos específicos. Logo acabou o asfalto e entramos na estrada de terra, área da Estrada da Morte mesmo. Cascalho solto, sem proteção na estrada. A manhã inteira descendo de bicicleta. Meus dedos começaram a endurecer, pois eu peguei uma bicicleta mais barata, bem boa, mas fazia muita força nas mãos para frear, e como freava toda hora, dedos endureceram. No meio do caminho minha bicicleta quebrou a marcha. A van veio e me deu uma bike nova. Descia uma montanha em ziguezague, uma floresta cortada pela estrada, e começou a fazer muito calor. Coloquei todas as roupas que estava na van durante uma parada e fiquei só com a roupa térmica. 


Passei por uma cascata, tiramos várias fotos, houve pausa para lanche... E estava um calor insuportável. Depois de várias horas descendo, fotos, pedras, chegamos no fim da linha. Um vilarejo, onde comemoramos a descida com sucesso, banho no rio, e depois muito arroz, batava frita, carne, salada e vimos as fotos tiradas pelos guias. 





Da metade do caminho em diante eu era o ultimo da turma, optei por ir mais devagar, desviando das pedras, e tentando apreciar mais a paisagem. Incrível pedalar no meio daquela mata. Me senti em uma matéria do National Geographic. A adrenalina vinha o tempo todo. Sabe aqueles momentos onde você deseja uma pausa por estar tão bom?! Então, hoje carrego fotos, lembranças, história. Bate certa saudade ao relembrar e escrever. E voltando... Estava morto de cansaço, não tinha descansado nenhum dia e o passeio foi ótimo. Super recomendo para quem for a Bolívia, afinal é um dos cartões postais do país. Não deixe de fazer a Estrada da Morte. 


Um dia eu ouvi a seguinte “quem dorme muito vive pouco”. Desde então ela é impregnada na minha vida. Claro que eu tenho certos limites. Acabei saindo para negociar um último passeio logo que cheguei na parte da tarde em Lá Paz. Huayna Potosi. Depois de muitas lojas de turismo, acabei fechando com uma, por 900 bolivianos, por terem me orientado melhor e pela confiança que senti. Bem, eu iria fazer o passeio na manhã seguinte! Putz, eu estava morto, podia ter tirado o dia seguinte para descansar, mas não, achava que meu corpo era de ferro, e que já estava aclimatado a altitude e não iria sentir nada em uma escalada. O rapaz que fechei o passeio, me deu muitas dicas, inclusive orientou para eu ir após dois dias e não no próximo e eu teimei com ele. O melhor atendimento que tive na Bolívia foi o dele. 
Enfim, tinha feito a Estrada da Morte, o Pico Áustria, Chacaltaya, acretiva que Huayna Potosí seria parecido e fácil. O vendedor me levou em farmácias, até achar Soroche Phill e um tubo de oxigênio para levar na escalada. E.... até o próximo episódio! Meu corpo está cansado e novamente preciso dormir, afinal de contas nos próximos dois dias estarei em uma montanha de 6088 metros, uma das mais altas da Bolívia, vem ai: Huayna Potosí.

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sábado, 13 de fevereiro de 2016

Pico Áustria e Laguna Chiar Khota - Bolívia

Acordei cedo no dia seguinte e a van já estava me esperando na porta do hostel. Não tomei café da manhã. Na van estava um senhor Bielorrusso, o motorista e o guia Willy. Íamos fazer um bate volta ao pico Áustria. 

O Pico Áustria é um dos picos mais alto da Cordilheira Real onde pode fazer trekking sem precisar escalar na neve. Está a 5315 metros de altitude e em frente é possível ver as geleiras do Condoriri, montanhas que lembram um condor de asas abertas, e a imensa laguna Chiar Khota. Normalmente as pessoas acampam na base em frente a laguna Chiar Khota e no outro dia sobem ao pico. Eu iria fazer tudo em um só dia. Seria um pouco degastante? Meu corpo aguentaria a altitude? Eu quase não havia descansado... Vamos ver...

Demorou mais de duas horas de van para chegarmos, e no caminho comprei água, chocolate, Gatorade. Foi muito caro, algo tipo trinta bolivianos. Meteram a faca em mim, mas foi a única parada na estrada.


Durante o caminho, pude ver a Cordilheira Real ao meu lado um tempão. Estava encabulado, tudo muito lindo, e hora que entramos entre as montanhas, fiquei mais encantado. Vista fenomenal, havia ovelhas, Ilhamas e Alpacas no caminho, até que a van parou em uma planície para iniciarmos a caminhada. Tomamos desayuno, chá de Coca, bolachas de sal e pão.
Caminhamos bastante, sem muitas subidas e chegamos na laguna Chiar Khota depois de uma hora e pouco. Um dos lugares mais lindos que conheci. Uma cadeia de montanhas ao meu redor, uma lagoa só para mim! Estava um pouco frio e parei para descanso. Contemplei, apreciei, admirei, aquele lugar. O que meus olhos viam era fantástico. Ainda sinto uma vontade enorme de voltar lá. Um monte de montanhas, um lago em minha frente, neve ao meu redor... Comecei a imaginar o que existiria no fundo do lago, atrás das montanhas. Pensei no tamanho de minha insignificância perante o mundo e na grande oportunidade de conhecer um lugar tão bonito como aquele. Eu sou movido ao desconhecido, adrenalina, riscos: a esse tipo de aventura. Um dia ainda largo tudo para dar a volta ao mundo... e ali, pude confirmar isso mais uma vez...
Depois de muitas fotos, começamos a subida bem devagar, cheio de pedras, coração disparava por causa da altitude, subida em ziguezague e ingrime, mas estava dando tudo certo. Depois de umas duas horas de caminhada já era meio dia e paramos para almoçar. O guia havia trazido a comida em uma marmita e começou a dividir em três pratos. Arroz, batata cozida e frango. Ele colocava com as mãos mesmo a comida em cada prato, e quando cheguei bem perto ele pegou uma colher e começou a disfarçar, colocando a comida com a colher. Até que não senti nojo e mandei tudo pra dentro, estava no meio do nada... só nos três... começou a nevar... só tomar um vermífugo ao voltar para o Brasil que resolveria... Risos.


Até que... aparece duas águias Sete Marias bem do meu lado!! Fiquei louco, e já coloquei um pouco de arroz para elas e fui fazer uma self!!! Não é todos os dias que se pode tirar foto com águias entre as montanhas almoçando. Quase coloquei uma no braço. Risos.




Nos preparamos novamente e partimos. Começou a subida... Depois de uns 40 minutos o bielorrusso que estava todo equipado, que tinha cara de atleta, logo ficou para trás. Começou a nevar forte, e esfriou bastante. A trilha ficou mais inclinada e cheia de cascalho. Apareceu muita neblina e em um determinado ponto o bielorrusso desistiu, sentiu o mal da altitude e desceu. 
Quase la... Acabei subindo com o guia, bem devagar, demorou mais uns 40 min, e pude ver o topo do Pico Áustria logo em frente... 
Foram quase 5 horas de caminhada até ali... entre pedras, o frio, águias, neve, mais um momento de superação... Meu corpo estava um pouco fadigado, com bastante frio, coração disparado, e mesmo assim eu tive forças e consegui chegar ao topo! Meu terceiro dia em La Paz e já estava a 5315 metros. Durante o percurso eu martelava que não poderia desistir, estava quase lá, que meu corpo aguentaria, e aguentou...

Cheguei no topo do Pico Áustria! Estava nevando e cheio de neblina, não se via nada. Entretanto, foi um dos momentos de êxtase e euforia. Uma sensação de superação, de alegria enorme por ter conseguido chegar ao topo daquela montanha. Comecei a querer chorar e me vi em prantos. Eu gritava e gritava e só o guia ouvia. Extravasar aquela sensação de dever cumprido foi demais. Ainda busco sentir aquela sensação novamente em novos desafios. 
Meu vídeo:

Eu e o guia, detalhe da neve... O guia quase não conversava, muito menos me entendia. Meu portunhol ainda estava horrível. Comecei a agradecê-lo e também agradecer a Deus por ter me dado forças e esse privilégio de estar ali em cima da montanha.

Não estava conseguindo tirar fotos, meu celular havia congelado. Coloquei ele literalmente no saco e depois de um tempinho ele ligou e consegui bater algumas fotos no topo! Estava super feliz por ter me superado e conhecido um pouco mais meu corpo e meus limites. Até então, eu achava que conseguiria tudo e todos os desafios, e esse não foi muito fácil. 





Começou a nevar forte, e com muita neblina, com o coração na mão, o guia mandou descer rapidamente. Comi um carboidrato em gel, chocolate, Gatorade, castanha de caju, balinha, água, barra de proteína durante o percurso. Estava um pouco mole e cansado e a descida foi mais rápida. Meus pés e pernas estavam bem fadigados. Fui o último a chegar na van e dormi no caminho de volta a La paz. Comi um Burguer King, voltei para o hostel, tomei um banho quente bem demorado, e fui dormir... Nada de balada... Dia seguinte tinha a Estrada da Morte para fazer!