quinta-feira, 28 de abril de 2016

Isla del Sol - Isla de la Luna - Lago Titicaca

Entro em um barco cheio de mochileiros. Estou com uma mochila 65 litros, um saco de linho azul cheio de roupa suja, um violão, e uma mochila pequena. Literalmente um andarilho. Não tinha mais onde colocar nada. Encostei no banco, coloquei o violão no fundo do barco. Conta-se que os Incas surgiram desta ilha. Então... vamos?!!

Isla del Sol é a maior ilha do lago Titicaca e está localizado no lado Boliviano do lago. Demorou algo entre duas e três horas para chegar na ilha. Pude contemplar a imensidão do lado durante a viagem, e quando avistei a ilha parecendo estar perto, demorou mais uma eternidade, mais de hora para realmente chegar nela. Havia reservado pelo Booking o hostel Inca Pacha (Hi-Hostel) por já ter hospedado nele em outros lugares. Só me restava achá-lo na ilha.
A caminho da ilha ...
Chego na Isla del Sol. Tem alguns barcos ancorados, vejo uma ou duas barraquinhas de venda de água, salgadinho e logo vem gente me oferecendo hotel para ficar. Digo que já tenho hospedagem. Vejo uma escada de pedras, que tem por volta de dois metros de comprimento, é enorme e cheia de flores pela subida. Há vários "andares" pelo caminho, cheio de casas. Depois de subir com toda a tralha e perguntar pra que lado fica o hostel Inca Pacha, eu chego. Uma senhora me atende, pede para eu anotar meu nome, o nome do meu país, número do passaporte e o número da minha reserva do Booking. Me leva até o quarto no segundo andar. No quarto tem apenas duas camas e uma janela enorme. A vista é fenomenal. Posso ver o lago da minha cama, e uma ilha bem próximo. Mais uma vez admirado com a paisagem. Lancho e vou dar uma volta na ilha, atrás de um mirante que possa ver a ilha toda.
Passo por nativos da região, dou um pouco de Ruffles e balinhas para algumas crianças que saem correndo de alegria. Passo por uma igrejinha de pedra, porém está com o portão fechado. Começo a fazer uma trilha subindo e subindo... Logo descubro que tem um mirante depois de uma hora de caminhada por ali. Chego tipo em uma torre abandonada que é o mirante. Na escada tem uma mulher boliviana, essas mulheres de descendência nativa, tem características especificas, chapéu, duas tranças, uma especie de cobertor por cima dos ombros e elas são conhecidas como Cholas.


Voltando, ela estava lá na escada com seu filho de talvez 8 anos e este segurando o cabresto de uma Lhama. É uma especie de mamífero, parecido com um camelo. Extremamente dócil. Converso com ela bastante, e acabo comprando mais uma luva, mais um gorro e uma blusa de frio de Alpaca por 160 Bs, algo entre R$100,00 na época, feita por ela. A criança fica o tempo inteiro em cima de mim para tirar foto minha com a Lhama por um boliviano.

Assista meu vídeo:

Depois da sessão de fotos com a Lhama (eu adorei), contemplo aquela vista única. Estou no meio de uma ilha, olho por todos os lados, vejo água e mais água, lembra-me o mar, vejo também outras ilhas próximas. Aquela imensidão azulada e um céu cheio de nuvens que realçam ainda mais a beleza da região. As ilhas, lembram-me aqueles mapas da Terra Media do Tolkien, só que agora eu estou ali! No meio delas! O sol esta bem próximo, deve ser umas 4 horas da tarde.
Saio andando sem rumo, tem um museu que só estaria aberto no outro dia e não consigo ir. Sozinho, contemplo a ilha. Muitos burros pelo caminho, alguns nativos plantando,e eu andando bastante. o sol começa a se por...

A procura de algum restaurante que tivesse e no caminho encontro uma nativa e pergunto onde tinha um restaurante bom e com internet. Coincidência, ela está indo trabalhar em um restaurante e subo as escadas com ela. Ajudo ela carregar umas bebidas. Chego. Peço um omelete, umas batatas fritas e uma taça de vinho... Logo peço mais uma taça... O restaurante está bem cheio. Da janela vejo o sol se pondo... aquele céu meio azul com laranja... Daria uma foto de cartão postal...
Deu Brasil na Ilha ... 
Logo na terceira taça de vinho, por acaso ouço um pessoal falando português. Depois de alguns dias sem ouvir minha língua, eu pergunto de onde são, e encontro duas conterrâneas! Como eu fiquei alegre! Poder falar português! rsrsrssr eram duas mineiras que moravam em Sp, Camila e Gabriela e uma Francesa que n lembro o nome. Conversamos, jantamos e por acaso elas também estão bebendo vinho! Logo vai mais uma garrafa, duas, três...

Escurece... começa a chover... peço mais uma garrafa de vinho para levar e acompanho as meninas ate suas instalações. Essa história foi engraçada e romântica, porque estava chovendo bastante... um pouco frio... e quase não tinha luz... apenas a lua iluminava... e agora levemente alterado não achávamos a hospedagem delas. Andamos em circulo por aquela ilha, descendo as escadas ensopados e morrendo de frio. Um cachorro começou a acompanhar a gente e a passar entre nossas pernas, querendo atenção, quase nos fez cair algumas vezes. Rimos muito. Acho que acordamos a ilha inteira. Um tremendo silêncio e a gente lá andando e andando...

Um vinho de madrugada pela ilha... e esquecemos a garrafa ali...

Ainda tinha aquela garrafa de vinho... Gabriela vai dormir. Camila me empresta uma capa de chuva e sentamos em uma mesa do lado de fora da pousada, admirando a lua e o lago Titicaca. Conversamos muito, passo a admirar Camila, engenheira florestal e aventureira. Aquele vinho acaba sendo um dos melhores que bebi até hoje... talvez pelo fato de estar na Isla do Sol, bêbado, pegando chuva e contemplando aquele lugar fantástico! O vinho acaba... estou congelando... deve ser umas 2, 3 da manhã, não sei. Preciso voltar para meu hostel... Despedi de Camila e desejamos boa viagem um ao outro.

Lá vou eu subindo aquele monte de escadas, sozinho, no escuro, tentando lembrar onde que era minha hospedagem. Lembro que tinha que subir bastante... Ufa, encontro! Porém a porta está fechada, bato, grito e ninguém abre. O jeito era dormir ali... do lado de fora... molhado, parecendo um cachorro vira-lata... Acordo congelando... Levanto tonto... ainda de noite... e tenho a ideia de ver se tem alguma janela de algum quarto que de para abrir, arrombar, sei lá. O frio tava forte e eu estava molhado... Sorte a minha, na segunda janela eu consigo abrir e com muito custo me caio direto dentro de um quarto com uma cama beliche que por sinal não tinha ninguém. Deito, me cubro e simplesmente apago.

No outro dia acordo assustado. Sem saber onde estava, com uma leve ressaca de vinho. Saio do quarto, subo umas escadas e acho meu quarto. Desço. Tomo café da manhã com o boliviano gerente do hostel. Ovos mexidos, café e pão. Toco violão olhando para o lago e pegando um pouco de sol.

O gerente me diz que posso ir conhecer uma ilha próxima ou fazer uma trilha bem longa pela ilha. Ressaqueado, não sei se pelo vinho ou pela altitude, e vou conhecer a Isla de la Luna. Não lembro quanto paguei, mas foi algo entre 30 bolivianos, e peguei o barco e fui. Demorou uma hora pra chegar e só pude ficar uma hora na ilha. Paguei uma taxinha de 10 Bs e fui ver as ruínas. 
A Isla de la Luna é uma ilha pequena onde é possível ver as ruínas incas de templos de oferenda e bem preservados. Conta-se que foi la que Viracocha (um Deus inca) comandou o nascimento da Lua.

Isla de la Luna...


Passei por portas de pedra, pedras lapidadas. São ruínas pequenas, nada grandioso como Machu Picchu, adorei o passeio, já que não conhecia nenhuma. Subi o mais alto que pude para ver a ilha de cima, fiz umas fotos, voltei para o barco e adeus Ilha da Lua.

Voltei para Ilha do Sol para pegar minha mochila, meu violão e meus apetrechos, digo adeus à ilha... Digo adeus a um dos lugares mais calmos e tranquilo que conheci, cheio de paz e de energia positiva, um dos lugares que mais gostei. Assim, mais um capitulo extraordinário desse mochilão vai acabando... 


Durmo no barco e volto para Copacabana. Compro passagem para o mesmo dia direto à Puno, Peru. Encerra-se aqui meu caminho pela Bolívia, país que estive por duas vezes em 2015. Passei por Sta Cruz de La Sierra, Sucre, Potosí, La Paz, Copacabana e por fim Isla del Sol. Espero que tenham gostado da Bolívia, e que eu tenha ajudado de alguma forma os aventureiros e futuros mochileiros. Inicio então, minha trajetória pelo Peru! Até o próximo episódio!


Assista meu video:

domingo, 10 de abril de 2016

Copacabana - Lago Titicaca - Bolívia

Copacabana está localizada a 3841 metros acima do nível do mar, nas margens do maior lago de água doce da America do Sul. O lago divide o Peru e a Bolívia. Diz a lenda que foi das águas do Titicaca que surgiu a civilização Inca.




Cheguei à tarde de Huayna Potosí em La Paz, deu tempo de comprar um violão e ir no Burguer King, pois não aguentava mais sopa e alimentos cozidos. Peguei um táxi para a rodoviária. Comi um omelete e uma rosca na rodoviária. A passagem para Copacabana foi algo entre 60 soles e cheguei lá de noite. Pedi para o motorista me deixar em algum hostel bem barato. Não lembro mais o nome.

Peguei um quarto só para mim. Havia duas camas de solteiro e uma de casal, e era tudo meu! Era a primeira noite durante minha viagem que eu conseguia ficar sozinho, com um quarto só meu. Aproveitei para tirar tudo das mochilas, dar uma geral, e tomar aquele banho demorado de água quente. Afinal, em algum momento na escalada, eu pisei em dejetos de gente, e meu bastão também sujou... Depois descobri que lá em Campo Alto muita gente não usa o banheiro e sim vai entre as pedras e na neve... Tinha arrumado um saco que eu coloquei todas minhas roupas sujas, porque a mochila já estava muito cheia. Voltando... Naquela noite eu consegui descansar... e dormi muito bem...


Assista meu vídeo em:

No outro dia acordei quase meio dia. Dei uma volta pela cidade, passando pela Igreja Nossa Senhora de Copacabana, que é a padroeira da Bolívia. Uma igreja de quase 500 anos! A cidade é bem pequena, chupei muito picolé e aproveitei para fazer a subida do Calvário, uma caminhada de uns 30 min onde é possível ver a cidade e o lago por cima. É de lá que tira-se o verdadeiro cartão postal daquela região. Comprei um Ruffles e um Gatorade, esse foi meu café da manhã. 

...Início da trilha do Calvário ...
La em cima... 
Rumo à Isla del Sol! Estava novamente encantado com a Bolívia, vislumbrar aquela imensidão de água e entender que não era um mar e sim um lago. Fiquei encantado. Tirei um monte de fotos, lá em cima tinha um boliviano com dois telescópios que por 2 soles deixou eu olhar e mostrar uma estátua Inca do outro lado da ilha e também me contou coisas sobre a região. Adorei.

Comi uma barra de proteína e um carboidrato em gel com umas castanhas que tinha levado. Desci o morro, peguei minha mochila, comprei o ticket por 30 bolivianos para ir para a Isla del Sol... até o próximo capítulo!






Assista meu vídeo em:

sábado, 9 de abril de 2016

Huayna Potosí - Bolívia

Era madrugada, não havia dormido muito, o corpo ainda bem dolorido, cansado. Lá vai eu, sem noção, escalar a Huayna depois de muitos dias de atividade desgastante, mas pelo menos eu estava bem fisicamente. Huayna Potosi é uma montanha com 6088 metros de altitude, uma das rotas mais escaladas da Bolívia, e uma das montanhas mais belas do país.







Iria fazer a montanha em dois dias, e não em três como as pessoas fazem. Em três dias você consegue aclimatar bem e chegar ao topo. Em dois dias para quem já está bem aclimatado e com condicionamento físico muito bom. Eu, acreditando ser o super-homem, corpo cansado, acreditando que mesmo assim seria moleza. Havia me preparado um mês inteiro para escalar. Corria todos os dias, matriculei em uma academia de escalada em rocha, evitei beber, no intuito de ganhar mais força, para chegar bem e no topo da montanha. La vai eu nessa aventura...




A van passou no meu hostel cedinho e fui provar as roupas de frio e botas. 

Em seguida o restante do grupo chegou e encheu a van. Novamente, apenas eu de brasileiro no grupo. Demorou algumas horas até chegarmos na base de uma montanha , no refugio Casa Blanca (4800m), onde havia uma hidrelétrica e um acampamento. Havia um pessoal que estava lá aclimatando e que iria subir conosco. Almoçamos e logo em seguida iniciamos a subida ao refúgio Campo Alto (5130 m). 






A minha mochila só tinha o essencial, que era o capacete, os crampons, botas duplas, piolet, balaclava, luvas, polaina, saco de dormir, água e um pouco de comida, mas mesmo assim estava muito pesado. A subida até o acampamento base foi uma eternidade e um sacrifício. Tinha bastante neblina e começou a nevar, sem contar o peso que eu sentia da minha mochila. Com 15 min de subida minhas pernas já estavam fadigadas do dia anterior por ter feito a estrada da morte e eu já começava a fazer oração para aguentar a subida.
Lembro que passamos por trás da hidroelétrica, equilibrando em uma mureta como se fosse um meio fio, só que com um abismo do lado e logo estávamos subindo entre as pedras. Éramos umas dez pessoas e dois guias. Estava de dia, nevando, e demoramos mais de hora para chegar ao refúgio. No caminho pagamos uma taxa, assinamos um livro, fizemos uma pausa e logo em seguida voltamos a subir. Havia muitas pedras, a respiração ficava ofegante o tempo todo, começava a sentir o temível mal da altitude, e parecia que só eu estava com fraqueza nas pernas. Aquele peso na mochila estava acabando com minhas forças, e isso porque nem havia começa a subida, sequer tínhamos chegado ao refúgio.

Depois de uma eternidade chego ao acampamento e é um alívio tirar aquele peso de minhas costas. Parecia que minha mochila estava pesando mais de 50 quilos, quando na verdade era uns 10 quilos.


Antes de jantarmos, eram umas 4 hrs da tarde, saí na porta do acampamento, tirei umas fotos e logo fomos comer. Não aguentava mais comer sopa, chá de coca, e fiquei só no chocolate, no carboidrato em gel, Gatorade e nas barras de proteína que tinha levado. O banheiro era do lado de fora e não tinha luz. Havia um balde e um galão de água para jogar no vaso sanitário. Me deu uma tremenda dor de barriga. Um boliviano tinha acabado de usar o banheiro... Só a lanterna ligada... Bem, começava a não ter muito nojo das coisas... me superando a cada dia... Lá vou eu no banheiro com dor de barriga... no escuro...
Em seguida todos fomos dormir, afinal tínhamos 7/8 hrs de descanso para começar a verdadeira subida ao pico da Huayna Potosi. 






Dor de cabeça e dor de barriga...
Nao conseguia dormir ...

Não consegui dormir, e minha cabeça explodia. Eu levei Diamox e Soroche pills, mas não quis tomar nenhum com medo de morrer na montanha. Meia noite e meia levanto, tomamos desayuno colocamos os equipamentos, botas, segunda pele, uma verdadeira armadura. Meu grupo era o guia boliviano, uma francesa bem linda e eu. Haviam 6 guias e cada um levava duas pessoas. Duas pessoas passaram mal e ficaram no refúgio sem sequer tentar a subida. Seriam mais de 6 hrs de subida para ver o sol nascer. Será que eu conseguiria? Eu me perguntava o tempo todo, se meu corpo aguentaria o frio, a altitude, o fato de não ter dormido nem descansado. Como seria?
Tudo pronto. Partimos. Eu, a francesa e o guia. Forças recuperadas. Já era uma hora da manhã. Entre -10 e -15 graus. Estava todo agasalhado, botas, crampons, piolet, e ate um tubo de oxigênio na minha mochila. Sentia frio apenas no nariz e estava tranquilo até então. Lanterna na cabeça e a luz da lua eram minha única luz pelo caminho.

Bem, o que se passou daqui para frente foi uma verdadeira eternidade. A neve refletida pela lua. Aquele deslumbre de neve por todo lado, e a enorme dificuldade de andar com crampons durante a subida. Eu ouvia minha respiração o tempo todo, sentida a pulsação do meus batimentos aumentando e logo os grupos se distanciaram uns dos outros. Depois de mais de duas horas de subida, minhas pernas simplesmente endureceram. Eu sentia meus pés congelados, apesar de estar com botas apropriadas. Os crampons às vezes se soltava e o guia voltava para colocar. Depois de duas hrs de caminhada o frio era tremendamente enorme e passei a sentar na neve, a tirar a luva e pegar o tubo de oxigênio para respirar. A cada vez que fazia isso o guia me enchia o saco e dizia "força Brasil, vamos Brasil!". A cada vez que eu fazia isso eu tinha que tirar a luva, e meus dedos congelavam. A francesa estava bem, havia aclimatado um dia a mais que eu e sequer sentia fadiga. O guia soltava uns uivos, dizia ele que era necessário para conseguir subir. Eu sequer tinha forças para dar o próximo passo.

Subíamos em ziguezague, hora ou outra ele alertava para ter cuidado com as gretas. Greta é um buraco na neve as vezes tampado pela própria neve, se cair já era. Eu passava do lado, olhava para baixo e não via o fundo do buraco. O buraco estava a um passo do meu pé. Parando para pensar hoje, era um puta de um suicídio, pois, se cair..., ninguém conseguiria tirar o corpo de lá. Por isso os grupos saem de madrugada, para não correr o risco de pegar uma nevasca, que geralmente vem durante o dia, e tampa essas gretas. Assim de noite elas estão relativamente visíveis, alem de se ver o caminho e os pontos de referência que só os guias conhecem. Uma corda segurava a francesa no guia e eu na francesa. Um filme passava na minha cabeça.

Estava perdendo minhas forças, com muito frio, com o coração acelerado. Me veio todo o treino que tinha feito durante um mês, pensado em desistir várias vezes, e mesmo assim eu estava lá firme. Passei a subir olhando para meus pés, sem pensar em nada, só no caminho de volta e refletir: "eu subo mas não terei forças para descer." E foi isso que aconteceu. Eu lembrava o tempo todo do último telefonema da minha mãe dizendo para eu não ultrapassar meus limites, que era para eu ter consciência que poderia morrer, se passasse mal era para descer. E quando não tinha mais forças, não sentia as batatas das pernas, não sentia dos dedos das mãos nem meus pés, o tubo de oxigênio acabado, coração a 200 por hora, faltando apenas 200 metros para o pico, eu desisti.

Eu achei que poderia morrer se continuasse. Foi assim que cheguei ao meu extremo, ao meu limite. O guia parou, disse que aquela era a reta final, e que se eu nao tivesse bem, eu teria que voltar, pois prejudicaria o grupo e principalmente eu mesmo. Uma experiência incrível e fantástica, cheguei a exaustão. Longe de qualquer comparação com teste físico, ou cansaço feito durante uma partida de futebol de 90 minutos quando eu jogava até meus 20 anos. Bem, sentei na neve, cabisbaixo, querendo chorar, esperando um outro guia subir para vim me buscar, afinal o meu guia continuaria a reta final com a francesa. Eles chegaram ao topo. Eu havia fracassado. Estava decepcionado comigo mesmo. Após alguns minutos um guia me buscou e comecei a descer. Foi tranquila a descida e passei a contemplar a montanha, a neve, e consegui conversar. Depois de uma hora eu cheguei ao acampamento, tomei chá de Coca, entrei no saco de dormir e apaguei. Estava exausto. O pico, visto só pelas fotos da francesa que chegou toda queimada do sol depois das 9 hrs da manhã, mas com um sorriso e uma alegria fenomenal. Fiquei feliz por ela.

Hoje, com outra cabeça, penso que não desisti. Penso que me superei e conheci mais os meus limites e o meu corpo. Foi uma puta de uma experiência e preciso voltar lá e vencer aquela montanha, Huayna Potosi. Talvez se eu tivesse descansado um dia inteiro, e aclimatado mais um dia eu teria conseguido. Não me arrependo de ter pecado nos meus excessos. Foi uma puta de uma subida.